quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Jumento Maconheiro


Certa noite encontrava-me entediado. Não agüentava mais ficar balançando naquela rede na sala de casa e resolvi me distrair na quadra monoesportiva de Campinas do Piauí.

Minha única distração naquela cidade eram os meus DVDs de roque e vez em quando uma zoação com Pedro Neto, que mercenariamente, para cumprir aquilo que eu lhe pedia, sempre me cobrava. Tal dinheiro era bem investido pelo moleque, em jogos virtuais puritanos como medalha de honra (ou mais apropriadamente “matança de honra”). Estava sem meus DVDs, mas não sem dinheiro. Antes de dirigir-me à quadra, sentei à calçada de casa e paguei 50 centavos para Pedro Neto chamar Aninha de Expedito de Gostosa. Com o sucesso da operação, paguei mais 50 centavos para ele correr até ela e pegar-lhe na bunda, mas além de não o ter feito, o infeliz fugiu com minha grana para a locadora de vídeo-gueime. Tudo bem! Já havia dado para relaxar.

Decidi de vez “subir” à quadra. Quando me pus a caminhar, escutei uma estranha voz dirigindo-se a mim: “Ei otário!”. Virei-me e só enxerguei um jumento. Pensei: “Pow, tow ficando louco! Tow vendo um jumento muito doidão com um cigarro de maconha, uma camisa do Nirvana no lombo, um boné do Fred Durst e ainda com um MP3 escutando Korn !?”

Aquela mesma voz me veio novamente e agora eu havia percebido claramente que vinha da direção daquele insolente jumento: “Eh tu mermo rapah!”.

_ Quem és tu para dirigir-me a palavra dessa forma? Retruquei.

_ Quer que eu lhe chame de vossa excelência simplesmente por ser humano e se achar superior? Indagou o jumento.

Aquele diálogo soava-me estranho e constrangedor. Quando estava no meio do caminho, minha audição superpotente captou vozes na freqüência de 8000 Hz de pessoas que estavam sentadas à calçada de suas residências e que comentavam que o filho de Joaquim (quando arriscam falar o meu nome, me chamam de Diêgo) estava ficando louco, conversando com jumentos (à freqüência de 6000 Hz nada mais escuto, em virtude de um zumbido originado por um pipoco no meu ouvido esquerdo executado por “Dissin” quando ainda éramos crianças). Comentavam ainda (crentes que eu não escutava) que eu era feio pra caralho e que era “mago véi porque gostava desses roque véi doido”. Quando me aproximei e dei-lhes boa noite, a gentil senhora que havia proferido aquelas obsequiosas palavras à sua bondosa amiga, disse-me: “mas ta bunito, ta gordo!”. Agradeci-lhes o elogio e continuei a caminhada rumo à quadra.

_ O que deseja de mim? Perguntei ao jumento, que aparentava estar chapado.

_ Estava a acessar o meu orkut e verifiquei os elogios dirigidos à classe dos jumentos por vossa magnificência, colocando-nos como prefeitos dessa mísera cidade e em tudo isso estou a concordar plenamente, exceto com uma coisa. Respondeu- me o jegue, com uma certa ironia que já me irritava e sem falar que a fumaça da lombra do animal já me deixava loucão!

_ Diga-me com o que não concorda? Perguntei-lhe.

_ Quando vossa reverendíssima cita negativamente a substituição dos jumentos pelas motos. As motos representam nossa libertação. Éramos escravos. Não somos mais. Os campinenses é que agora o são das motos e dos carros. Dependem os campinenses de tais veículos motorizados não só para “tocar” o gado, como também para “comer” suas parceiras. Imagina o quão era e seria ruim coisas desse tipo em nosso “lombo”? Respondeu-me o jumento.

_ É, pensando por esse lado pode ser... mas e sem trabalho não se sentem humilhados? (Daniel )

_ Libertos, podemos nos dedicar à filosofia, à literatura, à ciência... zombar dos costumes e hipocrisia dos campinenses e como legítimos prefeitos que somos, quero que
transmitas nossas ordens...(Jumento)

Nesse exato momento, fui despertado por Maílson (meu colega e ilustre estudante de Fisioterapia da FACID), que, entusiasmado, estava a me mostrar seu mais novo Naique choque equistreme revolution. Cochilei na calçada de casa, nem fui à quadra e sonhei com esse absurdo.

Daniel de Macedo Moura Fé