terça-feira, 6 de setembro de 2011

Origem do termo Mirante do Gritador, em Pedro II



Arqueólogos, ao estudarem as pinturas rupestres da região, descobriram que as primeiras UPP’s (Unidades de Polícia Pacificadora) surgiram há mais de 10.000 anos, quando os homens das cavernas que governavam o território não suportavam mais os gastos que despendiam com aqueles que se drogavam com cachorro quente e Tubarel, além das batalhas diárias que eram travadas entre gangues rivais pelo controle da fonte natural do refrigerante.

No morro do gritador essa era a droga predominante, inferindo-se daí que o local era periferia, já que a elite das cavernas se drogava com coca-cola e mc-donalds. As UPP’s não resolveram o problema. Os habitantes apenas substituíram seu entorpecente habitual por coxinha com guaraná Jesus. Mesmo assim, espertos marqueteiros do governo alteraram a denominação do local de morro para mirante. Não se entende por que em pleno século XXI o morro dos macacos no Rio de Janeiro ainda seja chamado de Morro.

O termo “gritador” tem, segundo os pesquisadores, uma outra origem. Havia um ritual que era realizado todo final de tarde. As sogras dos homens das cavernas, ao completarem trinta anos de idade,eram jogadas precipício abaixo.

Acontece que todo ritual era acompanhado de estranhas cantorias entoadas por um dos trovadores mais famosos das cavernas, o Nando Reis (quem duvida que ele é um primata ou um bicho escroto?). As tietes das cavernas, ao o escutarem, gritavam histericamente, produzindo um deslocamento de ar poderoso, semelhante ao produzido por um caça supersônico da força aérea americana.

Esse deslocamento de ar tal qual o produzido pela explosão de uma bomba atômica fazia com que as sogras retornassem ao local de origem, da mesma forma que um bumerangue. O ritual nunca cumpria a sua finalidade, que era a de eliminar as sogras, já que estas sempre retornavam (e olha que todo dia eram muitas arremessadas, pois cada homem das cavernas tinha diversas sogras). O “gritador” em masculino é uma referência à superioridade masculina, já que em realidade eram as mulheres que gritavam.

Os nativos ainda hoje realizam o ritual, com uma pequena modificação: com a elevação da expectativa de vida, as sogras são arremessadas apenas quando completam seus 35 anos de idade.

Os cientistas fizeram ainda uma outra importante descoberta: dentre os legisladores das cavernas, havia uma única fêmea, a Vanessa da Mata e esta, não se sabe por que, tinha todas as suas proposições aprovadas prontamente, sem mesmo passar pelas comissões ou pelo plenário.

Uma dessas proposições gerou um problema vital. Vanessa da Mata impunha que toda mulher das cavernas que alisasse seus cabelos seria arremessada do mirante do gritador. E dessa vez, sem as cantorias do Nando Reis para auxiliá-las.

Esse ritual durou apenas algumas centenas de anos, quando os geógrafos e estatísticos das cavernas provaram que a sua continuidade provocaria a extinção da raça humana.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Crítica Fácil

Crítica Fácil. É muito fácil criticar políticos. Sarney criticou Collor. Collor criticou Sarney. Até Fernandinho Beira-mar ou o Maníaco do Parque em algum momento de suas vidas já criticaram políticos.

Não são só os 513 “malacas” da Câmara ou os 81 Bons Velhinhos do senado os maus da história. Afinal, de quem foram os milhões de votos que esses bons senhores receberam?Não creio que os nossos Tribunais Eleitorais tenham computado votos de iraquianos, japoneses ou Extra-Terrestres!

Quem nunca ouviu de muitos brasileiros frases do tipo: “Ah, se eu fosse prefeito... iria roubar do mesmo jeito” ; ”Bestaiado! Saiu da prefeitura sem nada! ”

Costumamos florear nossas críticas ao sistema político com pronunciamentos bonitos, carregados de moralidade, reivindicando melhorias na saúde, na educação e nos cuidados aos mais necessitados. Somos tão caridosos!

Fazemos isso por que somos bonzinhos mesmo, por que queremos o bem comum ou simplesmente por que não temos ou não estamos no Poder? O Poder realmente muda, torna as pessoas más, ou essa maldade já existe em nosso inconsciente e se torna visível quando adquirimos poder?

Os absurdos na política não ocorrem apenas por conta de meia dúzia de políticos corruptos, mas pela outorga que lhes foi concedida por milhões de pessoas as quais, estando no poder, cometeriam os mesmos delitos, só não o admitem de antemão.

Afinal, Já observava Platão “Os bons são aqueles que se contentam em sonhar com aquilo que os outros, os maus, realmente fazem.”

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Jumento Maconheiro


Certa noite encontrava-me entediado. Não agüentava mais ficar balançando naquela rede na sala de casa e resolvi me distrair na quadra monoesportiva de Campinas do Piauí.

Minha única distração naquela cidade eram os meus DVDs de roque e vez em quando uma zoação com Pedro Neto, que mercenariamente, para cumprir aquilo que eu lhe pedia, sempre me cobrava. Tal dinheiro era bem investido pelo moleque, em jogos virtuais puritanos como medalha de honra (ou mais apropriadamente “matança de honra”). Estava sem meus DVDs, mas não sem dinheiro. Antes de dirigir-me à quadra, sentei à calçada de casa e paguei 50 centavos para Pedro Neto chamar Aninha de Expedito de Gostosa. Com o sucesso da operação, paguei mais 50 centavos para ele correr até ela e pegar-lhe na bunda, mas além de não o ter feito, o infeliz fugiu com minha grana para a locadora de vídeo-gueime. Tudo bem! Já havia dado para relaxar.

Decidi de vez “subir” à quadra. Quando me pus a caminhar, escutei uma estranha voz dirigindo-se a mim: “Ei otário!”. Virei-me e só enxerguei um jumento. Pensei: “Pow, tow ficando louco! Tow vendo um jumento muito doidão com um cigarro de maconha, uma camisa do Nirvana no lombo, um boné do Fred Durst e ainda com um MP3 escutando Korn !?”

Aquela mesma voz me veio novamente e agora eu havia percebido claramente que vinha da direção daquele insolente jumento: “Eh tu mermo rapah!”.

_ Quem és tu para dirigir-me a palavra dessa forma? Retruquei.

_ Quer que eu lhe chame de vossa excelência simplesmente por ser humano e se achar superior? Indagou o jumento.

Aquele diálogo soava-me estranho e constrangedor. Quando estava no meio do caminho, minha audição superpotente captou vozes na freqüência de 8000 Hz de pessoas que estavam sentadas à calçada de suas residências e que comentavam que o filho de Joaquim (quando arriscam falar o meu nome, me chamam de Diêgo) estava ficando louco, conversando com jumentos (à freqüência de 6000 Hz nada mais escuto, em virtude de um zumbido originado por um pipoco no meu ouvido esquerdo executado por “Dissin” quando ainda éramos crianças). Comentavam ainda (crentes que eu não escutava) que eu era feio pra caralho e que era “mago véi porque gostava desses roque véi doido”. Quando me aproximei e dei-lhes boa noite, a gentil senhora que havia proferido aquelas obsequiosas palavras à sua bondosa amiga, disse-me: “mas ta bunito, ta gordo!”. Agradeci-lhes o elogio e continuei a caminhada rumo à quadra.

_ O que deseja de mim? Perguntei ao jumento, que aparentava estar chapado.

_ Estava a acessar o meu orkut e verifiquei os elogios dirigidos à classe dos jumentos por vossa magnificência, colocando-nos como prefeitos dessa mísera cidade e em tudo isso estou a concordar plenamente, exceto com uma coisa. Respondeu- me o jegue, com uma certa ironia que já me irritava e sem falar que a fumaça da lombra do animal já me deixava loucão!

_ Diga-me com o que não concorda? Perguntei-lhe.

_ Quando vossa reverendíssima cita negativamente a substituição dos jumentos pelas motos. As motos representam nossa libertação. Éramos escravos. Não somos mais. Os campinenses é que agora o são das motos e dos carros. Dependem os campinenses de tais veículos motorizados não só para “tocar” o gado, como também para “comer” suas parceiras. Imagina o quão era e seria ruim coisas desse tipo em nosso “lombo”? Respondeu-me o jumento.

_ É, pensando por esse lado pode ser... mas e sem trabalho não se sentem humilhados? (Daniel )

_ Libertos, podemos nos dedicar à filosofia, à literatura, à ciência... zombar dos costumes e hipocrisia dos campinenses e como legítimos prefeitos que somos, quero que
transmitas nossas ordens...(Jumento)

Nesse exato momento, fui despertado por Maílson (meu colega e ilustre estudante de Fisioterapia da FACID), que, entusiasmado, estava a me mostrar seu mais novo Naique choque equistreme revolution. Cochilei na calçada de casa, nem fui à quadra e sonhei com esse absurdo.

Daniel de Macedo Moura Fé

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Viagem a Campinas III

_Marculinu Fii duam égua! Se arruma qi o jip ta chegando.

Mais uma vez Marculino é chamado a se apressar pelo amiguinho Virgulino de Chica de Chimbira. Virgulino parece mais ansioso.

É que dessa vez a viagem a Campinas tem como finalidade o primeiro Forró que os meninos irão participar na Rua. A primeira viagem foi até boa, emocionante por conta da aventura no casarão. Mas a igreja.. que coisa chata! o tempo não passava! A garotada não gostou. A chatice agora vai ficar com o trabalho escolar, uma pesquisa na biblioteca da cidade, no dia seguinte ao Forró.

Chegando em Campinas, ah que beleza! Muitos carros, muita gente de fora. Marculino sente-se perdido em meio à multidão. Deu um friozinho na barriga. Só o que o incomoda é a poeira. Marculino tá mais amarelo que Zé Saruê.

_Cuidado Marculinu!

Marculino quase foi atropelado por Pedro Neto, que pegou o carro do pai emprestado. Não fosse Virgulino pra avisar..Ufa!

E o forró começa a truar: "Pau-de-Arara do forró!!!". Anuncia o locutor.

"Meu Amor
Ai love iú
Eu te amu
É isso aí: um alô pra Zezim Zoiudo Cds, Chico Mangangá Cds, Chica de Chimbira Cds, Zé Candango Cds, Joãozim da Tapioca Cds...
Eu te amu
Ai love iù
Meu amor"

Na música mais famosa do 99° Volume da Pau-de-Arara do Forró, Marculino não se segura e põe-se a forrozear com chiquinha de Chica de Chimbira. "Iuh!".

_Ei gostosa! Pedro Neto elogia a dançarina e joga um corote de 51 no vocalista.

Marculino e Virgulino se entusiasmaram e confiaram demais. O refrigerante que tomavam em realidade era cachaça doada por Pedro Neto numa lata de coca.

Os dois vomitaram e gritaram:

_Valdir, qi dia tu mais caminha??

_Todo dia. Responde Valdir.

Os garotos dormiram na praça ao som de "Seu guarda eu não sou vagabundo, não sou delinquente, sou um cara carente, eu dormi na praça..." que tocava numa barraca, ao lado da quadra poliesportiva. É, mas o policial não aliviou e meteu o pé na bunda de Marculino, que acordou desorientado, com o mundo girando e a vontade de vomitar aumentado.

_Vão durmir em casa dirgraça! Esbraveja o guarda com os meninos.

Mas Marculino não tinha casa em Campinas e foi direto à biblioteca da escola.

Marculino não conseguia se concentrar. A ressaca era grande. A bibliotecária ainda escutava forró na rádio a toda altura.

_Num mexe nesses livru não mininu danadu! Eu acabei de arrumar! Grita uma professora muito zelosa, que, por precaução, não deixa nenhuma criança ler os livros.

Marculino pensa: "Tow lascado, vou chegar in casa vomitanu e ainda sem fazer o trabai. Os livru são bunitu..professora injuada!"

E Marculino se lascou mesmo. Foi vomitando toda a estrada de volta. A poeira lhe deu uma pneumonia de presente. Levou uma pisa de chicote de Zé sutenga. Foi parar no hospital de Simplício Mendes. Tirou zero no trabalho, na prova e perdeu o ano.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Viagem a Campinas II

No caminho para a igreja, Zé Sutenga pára em frente à renomada Câmara de Vereadores de Campinas e fica curioso por assistir ao glorioso trabalho dos nossos legisladores. Um vereador levanta-se e lê em voz alta seu mais ambicioso projeto de lei: "Proponho tapar o buraco das véa e consertar os da nova".

Zé Sutenga não consegue segurar e solta uma larga gargalhada. É repreendido. Não entende. Cihica de Chimbira já lhe contara piada semelhante e Zé Sutenga sempre achara graça. Qual o problema em sorrir? Não se tratava de piada? Pobre Zé Sutenga, a propositura do desenvolto vereador era mais do que séria!

Zé Sutenga se dirige à Igreja. O padre estava apressado. O batizado já se encontrava no fim. Sorte de Zé Sutenga. Os vereadores finalmente terminaram seu café com bolo e decidiram visitar os eleitores na igreja. O prefeito também acabara de chegar. Diante de presenças ilustres, o padre pisa no freio e resolve pregar longamente:

"Irmãos e irmãs, estamos presenciando a degenerescência da sociedade. Os bons cristãos batizavam seus filhos com nomes cristãos: João, Maria, José. O que vemos hoje é essa proliferação de nomes artísticos, americanos. Michael Jackson representa o que há de pior nesse mundo: a pedofilia. Nesse momento, Michael Jackson está pagando por seus pecados."

Diante a eloquência do padre, Marieta de Dona Zefinha se entusiasma:

_ Viu, viu Zé Sutenga . E tu qui num quiria Micael Jéquison. O padre adorou o nome de meu fii.

_ Deixe de cunversa muié, oxente! Respondeu irritado Zé Sutenga, com receio de que o padre a repreendesse.

O padre prossegue:

"E para aquele pobre povo da Lagoa Dantas, que se disvirtuara do bom caminho para seguir igrejas profanas, eis o exemplo de Paulo na 1ª carta aos coríntios: ' E Jesus dissera: Nessa pedra, Pedro erigirá minha igreja. Ela se chamará Igreja Católica Apostólica Romana. A Assembléia de Deus, a Universal, a Congregação Cristã, a quadrangular e a octogonal do Reino de Deus dos últimos dias de todos os santos e todas as demais não passarão de religiões heréticas e serão comandadas por falsos profetas'. Palavra do Senhor".

_ Graças a Deus. Todos respondem, menos Pedro Neto que grita ao fundo da igreja: "Uh padre véi doido, Ihu!

_ói ped neto, ói que o padre te pega, ihihi. adverte Josué.

Os vereadores e o prefeito abençoam Micael Jéquison de Zé Sutenga.

No caminho de volta, Zé Sutenga avista uma aglomeração de evangélicos repetindo o gesto de João Batista a um ex-pecador em pleno barreiro do Barrocão.

E o pastor adverte aos circunstantes: " Lembrai-vos das palavras de Paulo na 1ª carta aos coríntios: ' E Jesus dissera: Nessa pedra, Pedro erigirá minha igreja. Ela se chamará Congregação Triangular do Brasil. A igreja Católica, a Assembléia de Deus, a Universal, a Congregação Cristã, a quadrangular e a octogonal do Reino de Deus dos últimos dias de todos os santos e todas as demais não passarão de religiões heréticas e serão comandadas por falsos profetas."

Nesse exato momento, o mau espírito é expulso do corpo do ex-pecador e se instala em uns porcos próximos dali que saem correndo alvoroçados.

Os fiéis passaram a louvar a Jesus. Firmino esbraveja: "Aleluia, valeu o boi".

Pedro neto grita da caçamba da C-10: "Firmino, urêa de porco!".

Na realidade, os porcos foram assustados por Zezim, o cachorro de chica de chimbira, o qual não foi notado pelos fiéis.

Marculino adormece na caçamba da C-10. Sonha novamente num tabuleiro sendo perseguido por uma luz e uma águia mortaia e só desperta em Lagoa Dantas.

Viagem a Campinas I

_ Marculino fii duam peste! Se arruma que o carro tá chegando!

Esse grito foi de Virgulino de Chica de Chimbira, que, entusiasmado com a primeira viagem a Campinas, clama para o coleguinha para que se apresse.

A viagem se configurou por conta do batismo e registro do 19º irmão de Marculino de Zé Sutenga, que veio se adicionar a Juventina de Zé Sutenga. a Carminitina de Zé Sutenga, a Joãozim de Zé Sutenga, a ... e finalmente a Juliana Paes de Zé Sutenga_ essa a mais nova, de 09 meses, dada à luz com a Luz e a inspiração da televisão, que finalmente chegara a Lagoa Dantas.

O novo irmão chamaría-se Micael Jéquison. A mãe, Marieta de Dona Zefinha, se emocionara com a morte do ídolo. Resolvera homenageá-lo. O advento da Energia vinha proporcionando coisas do tipo ao povo de Lagoa Dantas.O mais novo da prole de Chica de Chimbira fora batizado de "Ronaldo Brilha no Corinthians". O de Zé Saruê: "Di Ti Comia Peri, Nha Nha Nha"_ uma equivocada tradução da música título da Novela "Caminho das Índias".

O povo de Lagoa Dantas se acostumara a dar boa noite a William Bonner e a Fátima Bernardes e tem até deixado de sacrificar vacas. Globalização via "Caminho das Índias". Crianças despertam à noite, chorando, ora com pesadelos com a Xuxa, ora com os Mutantes_ eles têm menos medo dos mutantes do que dos sofisticados efeitos especiais. Filmes de terror na madrugada têm provocado ao mesmo tempo entusiasmo e medo aos jovens lagoa dantenses, com acentuada audiência para os programas de pastores expulsando demônios horrendos dos seus fiéis.

No caminho para Campinas, Marieta de Dona Zefinha vinha matutando sobre como suprimir do Micael Jéquison o complemento "de Zé Sutenga", dado pelos populares a todos seus anteriores filhos. Não soaria bem um nome famoso ser acompanhado de uma designação típica da roça. Seria deselegente por demais. Se ao menos o povo o chamasse de Micael Jéquison de Marieta de Dona Zefinha... E Marieta suspirava longamente. Tentou fazer com que Juliana Paes fosse designada de Juliana Paes mesmo. Esforço em vão. O Zé Sutenga saia naturalmente da boca do povo. Talvez porque os outros 17 fossem chamados de fulano de Zé Sutenga. Talvez porque Zé Sutenga fosse mesmo mais popular do que ela. Não sabia explicar.

Chegando a Campinas, o Padre atrasou. Marculino e Virgulino avistaram um grupo de crianças se dirigindo a uma monstruosa construção bem ao lado da igreja, o assombroso Casarão.

Durante a brincadeira do 31 nos escombros da velha fábrica, Pedro Neto empurra Marculino para um corredor escuro. Marculino se perde do grupo. Fica ariado. Não encontra saída. Treme. Escuta Passos. Ouve Vozes. Enxerga uma figura monstruosa. Meu Deus! Marculino viu uma Bruxa! (Por quê não um preá Zumbi? Televisão meus caros, televisão!)

Marculino corre desnorteado. Tromba numa parede e desmaia. Sonha que está num tabuleiro. Uma luz vêm-lhe ao encontro. A Luz lhe diz "Marculino, o que queres em Campinas? O que Campinas lhe dará? Campinas mudará?". Uma águia mortaia passa sobrevoando a Luz e Marculino Desperta.

Tratavam-se de Zé Sutenga e Pedro Neto tentando acordar o menino desmaiado.

Pedro Neto encontrava-se vestido com uma capa preta, uma máscara e uma vassoura, gritando e babando a imitar Amy Whinehouse. Tentou despertar Marculino com uma lanterna e por fim, não obtendo êxito, tacou-lhe no rosto um pardal por ele recém-assassinado.

Zé Sutenga fica aliviado e corre que o padre já chegou.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

O Passeio de Daniel



O PASSEIO DE DANIEL

Estava eu a realizar um passeio turístico pela nossa querida Teresina e senti curiosidade de conhecer o pomposo e expansionista setor do ensino superior privado de nossa bela capital. Resolvi então visitar as duas mais renomadas faculdades privadas da nossa Cidade Verde, e com a certeza de que ninguém lerá ou se interessará por esse escrito, posso citar os nomes sem me preocupar que poderia estar a fazer propaganda gratuita. São elas Facid e Novafapi. Comecei pela primeira.
Logo de cara, senti um pouco de dificuldade para adentrar na faculdade. Os seguranças queriam barrar-me e percebi o real motivo da recusa em me deixar entrar: minha humilde indumentária não me dava a credencial para penetrar naquele fascinante mundo da educação.
Estava eu munido de um short dos camelôs discretamente colorido, de uma camiseta do Palmeiras que o menor conhecedor de futebol reconheceria sua não originalidade e de uma Havaianas Branca que um dos estudantes de branco da Facid apontou-a, condenou-a e entregou-me aos seguranças proferindo as seguintes palavras:
_ Não deixe esse vagabundo entrar! Olha só a Havaiana dele! Que Havaiana que nada! Aquilo é uma Mikalce! Até a bandeirinha do Brasil colada em suas peças está se soltando! Não deixe ele entrar!
Socorri-me então com meu amigo Maílson, estudante de fisioterapia da Facid, que prontamente me emprestou seu Naique choque e seu jaleco.
Consegui finalmente adentrar na faculdade. Tive muito boa impressão. Tudo muito limpinho, organizado, inclusive os alunos, todos bonitinhos e engomadinhos, uma pintura! Por um instante, senti um pouco de desgosto e me maldizi por ter freqüentado por tanto tempo a Uespi e a Ufpi. Não que todas as garotas das universidades públicas fossem feias, pelo contrário, é que as garotas das faculdades privadas por um motivo tal que ainda não decifrei são mais fofinhas, tão lindinhas! São realmente particulares! Elas não fazem greve de maquiagem nem das maravilhosas roupas que elas adquirem nos chópins. Essa é minha hipótese. O sábio Maílson tem uma hipótese bem mais provável: “Essas meninas não peidam”.
Mas foi outra coisa que despertou minha atenção e causou-me indignação. Perambulando pelos corredores da faculdade, pude observar um mundo de jalecos para lá e para cá como um varal móvel constituído somente de roupas brancas. E no meio daquele reino dos céus algumas cores destoavam de toda aquela brancura. Tratavam-se dos estudantes de direito e de talvez outros cursos os quais não consegui identificá-los por que inferi que os estudantes desses tais cursos aparentavam não sentir muito orgulho de estar cursando aquilo, pois que não trajavam camisetas identificadoras do curso.
E foi aí que percebi o quão esses acadêmicos eram menosprezados pelos estudantes de branco. E não só os ECNI (Estudantes Coloridos Não Identificados) como para minha surpresa maior também os de direito. Sim, os de direito! Que os estudantes de direito fossem rebaixados pelos de medicina ainda vá lá! Afinal são dois mil e quinhentos contos no “couro” dos pais dos futuros doutores. Mas um futuro advogado, promotor ou juiz não sei das quanta ser colocado abaixo de um reles estudante de enfermagem ou de fisioterapia é uma injúria! Até os acadêmicos de Biomedicina, cujo curso não passa de uma bioquímica disfarçada e que espertos marqueteiros das faculdades particulares permutaram o “química” com “medicina” tão-somente para dar um maior status e conquistar mais clientes, digo, estudantes, desfazem dos respeitáveis bacharelandos em direito. É uma vergonha para a pátria!
São os estudantes de direito os futuros guardiões da nossa honrada e igualitária Carta Magna, cuja profissão data do surgimento da propriedade privada, quando um valentão todo “bombado” e armado de um porrete numa das mãos, detonou-o sobre a cabeça de um magricela raquiticamente pleonástico, rachando-lhe o crânio e pronunciando as seguintes palavras:
“Essa terra agora é minha caralho!
Quem quiser tomá-la,
Vai ter que passar por cima da lei do meu porrete!”
Foi daí que surgiu toda a justiça e o direito. E é daí que os futuros juízes salvaguardadores da Lei do Cacete merecem todo o nosso respeito.
Foi então que me veio uma extraordinária idéia que mudará e porá fim a todo esse desagradável estado de coisas. Busquei nos filósofos o método e indaguei-me: O que dá todo esse status aos estudantes de branco? Então me veio uma óbvia resposta: Eureca! É claro que é sua vestimenta branca.
Surgiu-me então a idéia de caracterizar os estudantes de direito de uma forma peculiar para que todos os reconhecessem e lhes prestassem o devido respeito. E essa forma não era senão trajá-los com uma toga. Essa característica indumentária impõe respeito e por que não dizer até medo aos juízes, desembargadores e conselheiros e por que também não os imporia aos estudantes de direito?
Apenas que na minha visão de conceber essa vestimenta_ e para tranqüilizar aquela minoria dos bacharelandos que porventura viessem se recusar a utilizá-la_ ela não teria toda aquela gravidade das togas utilizadas pelos juízes e desembargadores quando se reúnem como que numa assembléia de urubus prontos a atacar a carniça para o julgamento de malfeitores como Buiú filho de Mulú que furtou uma galinha em meio a mil galináceos de uma das centenas de granjas de Seu José Vânio Cardoso. A minha toga seria mais leve e bem ao estilo da moda. Aliás, pensei encaminhar o projeto aos acadêmicos de moda das faculdades privadas, cujos coordenadores de curso poderiam inclusive montar uma turma de mestrado e dissertar sobre esse relevante tema.
E assim haveria de se por fim a tamanha injustiça nas faculdades privadas teresinenses e se não numa das maiores injustiças do Brasil: A subjugação dos acadêmicos de direito pelos estudantes de branco.
Quando ainda percorria os corredores da FACID a matutar sobre como ajudar os gloriosos graduandos em direito, aquele estudante de branco que me entregara aos seguranças quando eu ainda tentava introduzir-me na faculdade reconheceu-me e começou a gritar:
_ É aquele delinqüente de novo! Olha só a etiqueta de sua camisa! É das feirinhas de Caruaru! Pega ele! Pega ele!
Vacilei!
Absorvido nos pensamentos de tão nobre causa, deixei que a etiqueta da minha “pirata” camiseta do Palmeiras se pusesse para fora do jaleco que me fora emprestado por Maílson e quando me dei conta lá se vinha uma multidão de patricinhas e pleibóizinhos enfurecidos com o reles traje no meu encalço, e que inclusive na correria, pude identificar estudantes de direito que eu tanto estimava e queria ajudar atrás de mim por me pegar.
Foi aí que me recordei que quando se está na roça fugindo de boi “brabo” salta-se até cerca de arame farpado sem se dar conta e descobri que nem tudo que é capitalista é ruim. As molas do Naique choque de Maílson me deram uma impulsão tal que consegui transpor os umbrais da castelesca faculdade, levando apenas alguns choques na cerca elétrica. Mas enfim me livrei matrixianamente a dar língua aos meus perseguidores em câmera lenta quando transpunha o muro, ufa!