quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Viagem a Campinas I

_ Marculino fii duam peste! Se arruma que o carro tá chegando!

Esse grito foi de Virgulino de Chica de Chimbira, que, entusiasmado com a primeira viagem a Campinas, clama para o coleguinha para que se apresse.

A viagem se configurou por conta do batismo e registro do 19º irmão de Marculino de Zé Sutenga, que veio se adicionar a Juventina de Zé Sutenga. a Carminitina de Zé Sutenga, a Joãozim de Zé Sutenga, a ... e finalmente a Juliana Paes de Zé Sutenga_ essa a mais nova, de 09 meses, dada à luz com a Luz e a inspiração da televisão, que finalmente chegara a Lagoa Dantas.

O novo irmão chamaría-se Micael Jéquison. A mãe, Marieta de Dona Zefinha, se emocionara com a morte do ídolo. Resolvera homenageá-lo. O advento da Energia vinha proporcionando coisas do tipo ao povo de Lagoa Dantas.O mais novo da prole de Chica de Chimbira fora batizado de "Ronaldo Brilha no Corinthians". O de Zé Saruê: "Di Ti Comia Peri, Nha Nha Nha"_ uma equivocada tradução da música título da Novela "Caminho das Índias".

O povo de Lagoa Dantas se acostumara a dar boa noite a William Bonner e a Fátima Bernardes e tem até deixado de sacrificar vacas. Globalização via "Caminho das Índias". Crianças despertam à noite, chorando, ora com pesadelos com a Xuxa, ora com os Mutantes_ eles têm menos medo dos mutantes do que dos sofisticados efeitos especiais. Filmes de terror na madrugada têm provocado ao mesmo tempo entusiasmo e medo aos jovens lagoa dantenses, com acentuada audiência para os programas de pastores expulsando demônios horrendos dos seus fiéis.

No caminho para Campinas, Marieta de Dona Zefinha vinha matutando sobre como suprimir do Micael Jéquison o complemento "de Zé Sutenga", dado pelos populares a todos seus anteriores filhos. Não soaria bem um nome famoso ser acompanhado de uma designação típica da roça. Seria deselegente por demais. Se ao menos o povo o chamasse de Micael Jéquison de Marieta de Dona Zefinha... E Marieta suspirava longamente. Tentou fazer com que Juliana Paes fosse designada de Juliana Paes mesmo. Esforço em vão. O Zé Sutenga saia naturalmente da boca do povo. Talvez porque os outros 17 fossem chamados de fulano de Zé Sutenga. Talvez porque Zé Sutenga fosse mesmo mais popular do que ela. Não sabia explicar.

Chegando a Campinas, o Padre atrasou. Marculino e Virgulino avistaram um grupo de crianças se dirigindo a uma monstruosa construção bem ao lado da igreja, o assombroso Casarão.

Durante a brincadeira do 31 nos escombros da velha fábrica, Pedro Neto empurra Marculino para um corredor escuro. Marculino se perde do grupo. Fica ariado. Não encontra saída. Treme. Escuta Passos. Ouve Vozes. Enxerga uma figura monstruosa. Meu Deus! Marculino viu uma Bruxa! (Por quê não um preá Zumbi? Televisão meus caros, televisão!)

Marculino corre desnorteado. Tromba numa parede e desmaia. Sonha que está num tabuleiro. Uma luz vêm-lhe ao encontro. A Luz lhe diz "Marculino, o que queres em Campinas? O que Campinas lhe dará? Campinas mudará?". Uma águia mortaia passa sobrevoando a Luz e Marculino Desperta.

Tratavam-se de Zé Sutenga e Pedro Neto tentando acordar o menino desmaiado.

Pedro Neto encontrava-se vestido com uma capa preta, uma máscara e uma vassoura, gritando e babando a imitar Amy Whinehouse. Tentou despertar Marculino com uma lanterna e por fim, não obtendo êxito, tacou-lhe no rosto um pardal por ele recém-assassinado.

Zé Sutenga fica aliviado e corre que o padre já chegou.

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