sexta-feira, 30 de maio de 2008

O Passeio de Daniel



O PASSEIO DE DANIEL

Estava eu a realizar um passeio turístico pela nossa querida Teresina e senti curiosidade de conhecer o pomposo e expansionista setor do ensino superior privado de nossa bela capital. Resolvi então visitar as duas mais renomadas faculdades privadas da nossa Cidade Verde, e com a certeza de que ninguém lerá ou se interessará por esse escrito, posso citar os nomes sem me preocupar que poderia estar a fazer propaganda gratuita. São elas Facid e Novafapi. Comecei pela primeira.
Logo de cara, senti um pouco de dificuldade para adentrar na faculdade. Os seguranças queriam barrar-me e percebi o real motivo da recusa em me deixar entrar: minha humilde indumentária não me dava a credencial para penetrar naquele fascinante mundo da educação.
Estava eu munido de um short dos camelôs discretamente colorido, de uma camiseta do Palmeiras que o menor conhecedor de futebol reconheceria sua não originalidade e de uma Havaianas Branca que um dos estudantes de branco da Facid apontou-a, condenou-a e entregou-me aos seguranças proferindo as seguintes palavras:
_ Não deixe esse vagabundo entrar! Olha só a Havaiana dele! Que Havaiana que nada! Aquilo é uma Mikalce! Até a bandeirinha do Brasil colada em suas peças está se soltando! Não deixe ele entrar!
Socorri-me então com meu amigo Maílson, estudante de fisioterapia da Facid, que prontamente me emprestou seu Naique choque e seu jaleco.
Consegui finalmente adentrar na faculdade. Tive muito boa impressão. Tudo muito limpinho, organizado, inclusive os alunos, todos bonitinhos e engomadinhos, uma pintura! Por um instante, senti um pouco de desgosto e me maldizi por ter freqüentado por tanto tempo a Uespi e a Ufpi. Não que todas as garotas das universidades públicas fossem feias, pelo contrário, é que as garotas das faculdades privadas por um motivo tal que ainda não decifrei são mais fofinhas, tão lindinhas! São realmente particulares! Elas não fazem greve de maquiagem nem das maravilhosas roupas que elas adquirem nos chópins. Essa é minha hipótese. O sábio Maílson tem uma hipótese bem mais provável: “Essas meninas não peidam”.
Mas foi outra coisa que despertou minha atenção e causou-me indignação. Perambulando pelos corredores da faculdade, pude observar um mundo de jalecos para lá e para cá como um varal móvel constituído somente de roupas brancas. E no meio daquele reino dos céus algumas cores destoavam de toda aquela brancura. Tratavam-se dos estudantes de direito e de talvez outros cursos os quais não consegui identificá-los por que inferi que os estudantes desses tais cursos aparentavam não sentir muito orgulho de estar cursando aquilo, pois que não trajavam camisetas identificadoras do curso.
E foi aí que percebi o quão esses acadêmicos eram menosprezados pelos estudantes de branco. E não só os ECNI (Estudantes Coloridos Não Identificados) como para minha surpresa maior também os de direito. Sim, os de direito! Que os estudantes de direito fossem rebaixados pelos de medicina ainda vá lá! Afinal são dois mil e quinhentos contos no “couro” dos pais dos futuros doutores. Mas um futuro advogado, promotor ou juiz não sei das quanta ser colocado abaixo de um reles estudante de enfermagem ou de fisioterapia é uma injúria! Até os acadêmicos de Biomedicina, cujo curso não passa de uma bioquímica disfarçada e que espertos marqueteiros das faculdades particulares permutaram o “química” com “medicina” tão-somente para dar um maior status e conquistar mais clientes, digo, estudantes, desfazem dos respeitáveis bacharelandos em direito. É uma vergonha para a pátria!
São os estudantes de direito os futuros guardiões da nossa honrada e igualitária Carta Magna, cuja profissão data do surgimento da propriedade privada, quando um valentão todo “bombado” e armado de um porrete numa das mãos, detonou-o sobre a cabeça de um magricela raquiticamente pleonástico, rachando-lhe o crânio e pronunciando as seguintes palavras:
“Essa terra agora é minha caralho!
Quem quiser tomá-la,
Vai ter que passar por cima da lei do meu porrete!”
Foi daí que surgiu toda a justiça e o direito. E é daí que os futuros juízes salvaguardadores da Lei do Cacete merecem todo o nosso respeito.
Foi então que me veio uma extraordinária idéia que mudará e porá fim a todo esse desagradável estado de coisas. Busquei nos filósofos o método e indaguei-me: O que dá todo esse status aos estudantes de branco? Então me veio uma óbvia resposta: Eureca! É claro que é sua vestimenta branca.
Surgiu-me então a idéia de caracterizar os estudantes de direito de uma forma peculiar para que todos os reconhecessem e lhes prestassem o devido respeito. E essa forma não era senão trajá-los com uma toga. Essa característica indumentária impõe respeito e por que não dizer até medo aos juízes, desembargadores e conselheiros e por que também não os imporia aos estudantes de direito?
Apenas que na minha visão de conceber essa vestimenta_ e para tranqüilizar aquela minoria dos bacharelandos que porventura viessem se recusar a utilizá-la_ ela não teria toda aquela gravidade das togas utilizadas pelos juízes e desembargadores quando se reúnem como que numa assembléia de urubus prontos a atacar a carniça para o julgamento de malfeitores como Buiú filho de Mulú que furtou uma galinha em meio a mil galináceos de uma das centenas de granjas de Seu José Vânio Cardoso. A minha toga seria mais leve e bem ao estilo da moda. Aliás, pensei encaminhar o projeto aos acadêmicos de moda das faculdades privadas, cujos coordenadores de curso poderiam inclusive montar uma turma de mestrado e dissertar sobre esse relevante tema.
E assim haveria de se por fim a tamanha injustiça nas faculdades privadas teresinenses e se não numa das maiores injustiças do Brasil: A subjugação dos acadêmicos de direito pelos estudantes de branco.
Quando ainda percorria os corredores da FACID a matutar sobre como ajudar os gloriosos graduandos em direito, aquele estudante de branco que me entregara aos seguranças quando eu ainda tentava introduzir-me na faculdade reconheceu-me e começou a gritar:
_ É aquele delinqüente de novo! Olha só a etiqueta de sua camisa! É das feirinhas de Caruaru! Pega ele! Pega ele!
Vacilei!
Absorvido nos pensamentos de tão nobre causa, deixei que a etiqueta da minha “pirata” camiseta do Palmeiras se pusesse para fora do jaleco que me fora emprestado por Maílson e quando me dei conta lá se vinha uma multidão de patricinhas e pleibóizinhos enfurecidos com o reles traje no meu encalço, e que inclusive na correria, pude identificar estudantes de direito que eu tanto estimava e queria ajudar atrás de mim por me pegar.
Foi aí que me recordei que quando se está na roça fugindo de boi “brabo” salta-se até cerca de arame farpado sem se dar conta e descobri que nem tudo que é capitalista é ruim. As molas do Naique choque de Maílson me deram uma impulsão tal que consegui transpor os umbrais da castelesca faculdade, levando apenas alguns choques na cerca elétrica. Mas enfim me livrei matrixianamente a dar língua aos meus perseguidores em câmera lenta quando transpunha o muro, ufa!

5 comentários:

Thompson disse...

HAHA!
Demais, bicho..

Cara.. Um curso de merdicina por 2500 pau por mês dá uns 150 mil pau em 5 a 6 anos.
ELes teriam que trabalhar por três anos ganhando 4200 pau mensalmente exclusivamente para pagar o golpe que deram nos pais.

E ficam se achando alguma coisa quando o que mais fazem é produzir despesas.

Pessoas realmente inteligentes seriam um peso destes nas costas dos pais? Acredito que não.

Certo que para alguns deles 2500 pau por mês "não influi nem contribui". O que acho foda mesmo são o que se formam pedindo emprestado do dinheiro público. Agente paga imposto pra formar um bando de vagabundos incapazes de passar em um vestibular de universidade pública.

êta braziu!

Unknown disse...

é verdade
concordo plenamenteee
nem preciso explicitar mais nada aqui
creio eu que quem teve a "paciência" de ler o que tu chegaste a escrever e o que thompson comentou aqui, (sim paciência, pois nessa Era da informatização, com a vinda de Tvs, Rádios, PCs e qualquer outra merda eletrônica que dê para gravar e ouvir voz, as pessoas não tem mais a serenidade de ler algo escrito, quanto mais algo que chegue a ultrapassar umas miseras 5 linhas), perceberá a tamanha crítica feita acima destas pessoas que mais pensam que músculo e dinheiro valem mais que inteligência, afinal se musculo ou dinheiro fizesse alguem de rei, um touro teria uma coroa na cabeça e não um par de chifres =)

Junior Nascimento disse...

eu vou deixar pra comentar mais pessoalmente. Mas adianto que quase morri de rir com a história da toga. O texto é crítico, irônico e ao mesmo tempo muito engraçado. Acessa meu blog: http://junniornascimento.blogspot.com/ e me adiciona. O estilo é outro, mas espero que você goste. Ei, que dia vc aparece? Tô em dívida c vc! hehehe!

Unknown disse...

thompson.....

deixa de ser frustrado!!!!

é lógico que o curso de medicina compensa...

e sobre o governo pagar pra outros pobres fazer o curso....é simplesmente por n ter vaga suficiente nas universidades públicas... ou vc axa ke se estudar muitovai aumentar as vagas de 50 pra 51....?

e sobre a incapacidade...n são n!!!!
os classificados de medicina passa pa kualker outro curso ke kiserem....mas como eles n kerem fazer de suas vidas uma merda eles fazem na particular!!!!


sobre o texto....

muito engraçado!!!

Ass: aluno da facid!

Flávia disse...

Encontrei seu blog navegando pela internet...

Obrigada pela visita