domingo, 18 de maio de 2008

Reflexões de um louco suicida ou de um suicida louco ou como queiram denominar

Seguiu-se adiante com seus pensamentos, devaneios, reflexões de um homem infinitamente frustrado na vida._ Ei, ei seu narrador, interrompeu-me o personagem de quem vos falo._Reflexão_ continuou_ é a consciência pensando em si mesma, ou o pensamento pensando em si; para se ter consciência, torna-se imprescindível um cérebro e conseqüentemente um corpo biologicamente humano; pelo que me cabe, sendo a consciência um ente abstrato, teria ela tais premissas, isto é, um cérebro e um corpo humano para pensar em si?_ Isso não vem ao caso, retruquei._Espera_ interrompeu-me novamente nosso ilustre personagem_não terminei.Como poderias tu, narrador, afirmar que minha vida foi infinitamente frustrada se o infinito (que não me desminta a matemática) não é conhecido e, portanto, não poderias tu usar tal definição para mensurá-la!?_ Tenha calma, meu bom rapaz, deixe-me terminar a história, até por que tudo que falaste não tem nexo._ Desculpe-me! Exclamou Amadeu, esse é seu nome, Amadeu.Como vês leitor, nosso personagem tem um certo apreço pela reflexão.Como mencionei, Amadeu teve uma vida frustrada em todos os aspectos (vida amorosa, intelectual, moral, etc.) e para escapar a esse fado trágico a que o destino lhe reservara, se é que ele crê em destino, acovardou-se diante de tal situação e concluiu que só havia três meios para fugir daquele “beco sem saída”. Enumero-os:1. Retornar à infância;2. Suicidar-se;3. Enlouquecer, literalmente.Com relação à primeira solução, acreditava nosso amigo que voltando a ser criança esqueceria todos os problemas e frustrações. Descartou-o logo, pois até à elaboração da teoria da relatividade de Einstein e mesmo após esta ainda não descobriram um meio pelo qual voltar ao passado, a não ser, talvez, em teoria. O futuro seria fácil. Bastava uma nave ou algo parecido que atingisse a velocidade da luz, um buraco negro especial e, nada mais!Infelizmente, presume-se que um indivíduo aberto à possibilidade de perder a vida voluntariamente não queira ter futuro, muito menos ir ao futuro.Certo de que não fora bem sucedido na fase anal de Freud, a primeira alternativa foi completamente descartada. Restava-lhe o suicídio ou a loucura. Procurou, portanto, Amadeu, como um autêntico covarde, a alternativa relativamente mais fácil_ e não pense o leitor mais desavisado e não conhecedor do pensamento de Amadeu, o qual não descrevi, que seja a loucura. Realmente não o era. Amadeu passou a fazer uma análise discutivelmente minuciosa do suicídio.Refletia ele: “Mesmo sendo ateu, não poderia eu garantir a não existência de Deus. Logo, não poderia suicidar-me sem antes analisar o caminho dos que se autodestroem segundo a concepção religiosa.” “Seguindo a linha religiosa, teria eu, pois, dois caminhos: o de Lutero, no qual não iria eu para o inferno. Mas em não indo para o inferno, presume-se que então iria pro seu oposto, o Céu, e, se o Céu for como descrevem os escritos bíblicos e a maioria dos religiosos, ou seja, se lá me estiver reservada uma vida eterna e feliz, quem garantiria que lá eu não tivesse uma eternidade de frustrações? Além do que uma vida só de alegria não teria “graça” . Não me recordo no momento se foi o próprio Jesus quem proferiu tais palavras ou se é apenas um dizer popular. De qualquer forma, constitui-se numa tese que se não deve descartar.”“O outro caminho seria o dos escritos antigos da Bíblia e segundo o pensamento também da grande maioria dos religiosos, nos quais quem retira voluntariamente o dom de Deus, isto é, o Dom da vida, terá destino certo, qual seja, o inferno, e, como todos devem ter ouvido falar, apesar de que nunca ninguém comprovadamente tenha subido das profundezas para contar como é lá, não valeria a pena suicidar-me, pois, no inferno, ao menos teoricamente, sofreria eu eternamente.”“Afastando-me um pouco dessa ótica cristã-religiosa, teria eu outros dois caminhos: o da reencarnação e o do sumiço eterno. Reencarnar-me em outrem, numa outra vida, eu não queria, pois se já estou a retirar minha própria vida para não mais ter vida, porque quereria eu outra vida? Sendo assim, resta-me o sumiço eterno, mais condizente com a ótica atéia, mas, pensando bem, não queria eu ficar sabendo que não existo, ou melhor, não ficaria eu sabendo que não existo porque não existiria, pois, se não existo, como ficaria eu saber a que não existo? Incomoda-me muito esse caminho e não o quero.”Perceba o leitor quão fracos são os argumentos utilizados pelo nosso personagem (falta-lhe consistência no pensamento) sem uma fundamentação teórica sólida, argumentos estes rapidamente e duvidosamente pincelados sobre dizeres populares, bíblicos (tem mesmo até preguiça de consultar o livro sagrado dos cristãos para confirmar palavras), etc. Ele é até coerente, claro, com sua mediocridade e covardia.Depois de toda essa reflexão mediocremente filosófica acerca do suicídio, concluiu Amadeu que tal fuga da vida seria a menos propícia. Restava-lhe, então, a loucura. Vamos para mais uma chata e medíocre reflexão duvidosamente _enfatizo demais?_ filosófica. Ah, agüente mais um pouco querido leitor. Se preferir, jogue todo esse escrito idiota fora. Não o leia por minha mera insistência.“Até a esta altura da História da humanidade, nunca ouvi falar em ninguém que houvesse conseguido descobrir ou inventar um método para se ficar louco. Não obstante, um louco vive num mundo só dele, impenetrável, como uma placa de titânio, acreditando veementemente que o seu mundo é o correto e o dos ‘normais’ é que é errado. Acredito que o mesmo para os normais. Portanto, qualquer um pode ser louco e acreditar ser normal ou ser normal e acreditar ser louco, já que o normal pode ser louco sem ter disso consciência, e, loucos imaginam loucuras...”À par de tal reflexão, percebe nosso Amadeu que não pode concluir se é louco ou normal, se vive na realidade ou no mundo dos sonhos. Amadeu então, notando que o narrador mostra-se fiel na descrição do seu pensamento, e não se ofendendo com as zombarias efetuadas contra a sua pessoa por tal ente obscuro e escondido nas sombras da caneta, pede-lhe uma opinião sincera quanto ao seu atual estado mental. Eis a resposta:_ Tu ta é doido rapaiz, larga esse negócio de reflexão e vem pegar essa onda maneiríssima aqui na lua, hu, hu, huhahuha... Aê brother, hu...
Daniel Macedo Moura Fe

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