“Os recursos são escassos e as necessidades ilimitadas”. Num país que tem mais boi do que gente, onde a quantidade de alimento produzida é imensamente superior ao número de habitantes, esse belo axioma da ciência econômica burguesa é mais do que verdadeiro. Concorda com ele Sibilino da silva, pobre agricultor que não sabe quanto é dois mais dois, mas que louva a demonstração de tal dogma por um venerável economista durante um programa televisivo: “Mediante complexos cálculos diferenciais integrais dos custos marginais, concluímos que o custo de oportunidade tende ao infinito quando...”.Essa brilhante e esclarecedora demonstração vem-nos alertar quanto à nossa incapacidade de interpretar o sistema (seja econômico, político, social, etc.). Nós, meros leigos e ignorantes devemos prostrarmo-nos diante desses doutos economistas, cabendo-nos tão-somente prestar-lhes genuflexões e honrarias.Uma questão levantada pelo virtuoso economista e que aflige Sibilino da Silva é a febre aftosa. O churrasco dos luxuosos restaurantes do sul do país estão caríssimos e o peso da pança dos bondosos burgueses reduziu-se em um grama. É uma lástima! Mas catástrofe maior se dá entre os banqueiros e grandes empresários exportadores, onde a redução do superávit na balança comercial obrigou-lhes a economizar um mililitro de champagne por mês! Sibilino revolta-se, e com ele nossa pia população.Mas o renomado e misericordioso economista confortou o espírito do humilde agricultor, observando que caviar, mansões e carros luxuosos são bens inferiores para os ricos e que, se naquele momento o estômago de Sibilino roncava era simplesmente porque o pobre campônio alimentou-se de bens superiores para a sua atual condição financeira, como caldo de feijão com palma.Sibilino sentiu-se lisonjeado pelo nobre economista ter-se lembrado da sua tão necessitada classe, um homem tão culto e tão atarefado, encontra tempo mesmo para velar pelos miseráveis e conforma-lhes a alma. Mas o que mais impressionou Sibilino foi a erudição do douto economista, com um palavreado elevado aliado a cálculos complexíssimos, “Mais que cobrinhas bonitas” exclamou.Quando incomodado pelo filho que chorava aos seus pés, pois há uma semana só se alimentava de um caldo que só tinha a cor do feijão, Sibilino confortou-lhe afirmando que o economista previu que a alimentação dos pobres elevar-se-ia para caldo de cobra, muito mais nutritiva e econômica, já que somente uma refeição diária supriria todas as necessidades vitais.
Daniel Macedo Moura Fé

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